ESTREIA NACIONAL
Wagner Schwartz [BR]
Transobjeto
Um homem-cartaz entra em cena, fica nu, transforma-se em animal, artista e modelo, canta, bebe, dança e fuma um cigarro. Se esta história fosse um poema, seria modernista; se fosse um espetáculo, seria ativista; se fosse música, seria tropicalista; e se a história fosse verdade, o homem estaria à solta pelas ruas do Brasil.
Em 2004, o coreógrafo Wagner Schwartz criou
Wagner Ribot PinaMiranda Xavier Le Schwartz Transobjeto, o espetáculo que remontaria como
Transobjeto dez anos depois. Viajando através de numerosas referências do movimento tropicalista dos anos 70, investiga, de modo explícito mas delicado, a forma como as afirmações libertadoras do Tropicalismo continuam a ser relevantes à luz dos atuais acontecimentos no Brasil - ou, aliás, no mundo.
Wagner especula as inúmeras possibilidades que a partícula "trans" pode gerar em combinação com diferentes objetos, sugerindo a transformação, a transexualidade, a transgressão, a transmídia, a transdisciplinaridade, o transbordamento, a transposição, o transpassar e etc., ao fazer uso de referências tão claras e tão inteligentemente combinadas entre si. Embora haja humor em um trabalho que retoma um movimento de ruptura como foi o Tropicalismo, o contexto tenebroso de repressão vinculado ao Golpe Militar de 1964 da história do Brasil está inevitavelmente atrelado ao enredo e, nesse sentido, Transobjeto, de Schwartz, consolida-se como uma obra completamente atual, pois assistimos hoje a um enorme retrocesso no cenário político brasileiro que acaba por nos direcionar a essa época em que a metáfora era estratégia quase obrigatória para as(os) artistas driblarem a censura.
Tales Frey em
www.performatus.net
Apresentado em sessão tripla com
Infini #5 e
Radio No Frequency.