ESTREIA NACIONAL
Bouchra Ouizguen [MA]
Corbeaux
Uma horda de mulheres vestidas de preto inicia movimentos rítmicos e gritos estridentes cadenciados que fazem desaparecer qualquer noção de tempo e de espaço. As figuras em movimento, carregadas com o peso das memórias dos rituais Issawa e Hmadcha de Marraquexe, evocam simultaneamente as longas noites de transe e um tempo em que a loucura tinha o seu lugar na sociedade, tal como descreve a literatura persa dos séculos IX e XII. A experiência é intensa e ao mesmo tempo universal e íntima, ligando intérpretes e público à ideia de origens. Da perspetiva da coreógrafa Bouchra Ouizguen, Corbeaux não se trata tanto de um espetáculo mas de "uma escultura sonora, bruta e urgente, que ressoa infinitamente". A sensação que provoca no público, de ter estado numa longa viagem, perdura para lá do fim do espetáculo.
Desde que a peça foi encomendada pela Bienal de Marraquexe de 2014 e apresentada em frente à estação de comboios da cidade, o bando de Corbeaux tem pousado em lugares muito diferentes, desde instituições artísticas (a Tate Modern, em Londres, ou o Louvre, em Paris) a espaços públicos em Nova Iorque, São Paulo ou Beirute. Seis anos depois de apresentar o magnético Madame Plaza no Alkantara Festival em 2012, Bouchra Ouizguen abre esta edição do festival com uma versão de Corbeaux que inclui participantes locais e é apresentada no Castelo de São Jorge, lugar histórico e socialmente complexo.